terça-feira, 24 de abril de 2012

Capítulo 12 - Carne Vermelha e Vinho Tinto


O quarto estava à meia luz e nós dois a alguns passos da cama. As janelas entreabertas deixavam o vento passar em meio às cortinas, fazendo-as dançar. O meu corpo ainda ardia em brasas, mas o covidado não podia ver entre a penumbra, o vermelhidão sobre a minha pele.

Com fúria, abri sua camisa e pude ouvir os botões voarem pelo quarto e ricochetear pelas paredes. Ele ofegava em meu pescoço e suas mãos mal-educadas percorriam o meu corpo. A sensação era de uma lâmina afiada perfurando minha epiderme. Eu urrava, ora de dor ora de excitação.

Joguei-me com ele sobre a cama e com minha língua atrevida, fui desbravando todo o seu corpo, descendo por seu peito peludo até alcançar sua calça. Ainda com a boca, desabotoei-a. Suas mãos, neste momento, agarraram-se ao edredom com tanta força, que suas unhas perfuraram o tecido da coberta.

Éramos dois animais no cio. Vorazes, famintos, despudorados e insaciáveis. Ele se sentia o próprio leão, o rei da selva. O macho alfa, dominante. Mal sabia que a fêmea, cuja sua egocêntrica masculinidade achava possuir nesta noite, era da classe aracnídea. A própria viúva-negra, que após copular com seu macho, arranca-lhe a genitália com a própria vagina, fazendo-o morrer por hemorragia. A única diferença era que eu não iria desperdiçar uma gota sequer do sangue daquele apetitoso espécime masculino.

Nus em pelo, rolávamos sobre a cama. Beijos gulosos e apertos, deveras violentos, compunham uma sinfonia de gemidos e suspiros. E meu corpo cada vez mais febril o deixava ainda mais aceso. Sou penetrada, então, por seu membro pulsante e minhas entranhas em brasas o fazem urrar. Um soluçado entre a dor e o prazer descomunal. Cruzo minhas pernas sobre seu corpo e o abraço fortemente, tornando impossível sua fuga. E antes de senti-lo derramar dentro de mim todo seu tesão líquido, abocanhei-lhe a jugular, sugando com avidez quase todo seu sangue, em uma única dentada.

Momentaneamente havia saciado minha sede, o formigamento em minha pele diminuído e a minha cor, já estava tão pálida quanto antes. Mas a fome permanecia. Pus, então, seu coração em minhas mãos. Literalmente. Cortei a pele de seu peito com minhas unhas e introduzi as mãos em seu tórax, rasgando o corpo ao meio. Apanhei seu coração e o devorei, saboreando aquele músculo suculento, lambendo o sangue que escorria entre os meus dedos.

A madrugada já se adentrava, quando me levantei para tomar banho. A água, muito quente, caía sobre o meu corpo, ajudando a dissolver o sangue coagulado, preso sobre minha pele. O piso do box, completamente vermelho, me lembrou de outros tempos, não tão distantes, e me senti aliviada por nunca mais ter que menstruar. Mais uma vantagem em ser vampira.

Meu corpo estava completamente recuperado. Agora, precisava deixar aquele lugar o quanto antes.

Vesti-me apropriadamente. O corpo bem coberto, dos pés à cabeça. Teria que sair às escondidas e encontrar outro local para me instalar.

Pego o elevador e chego ao saguão do hotel. Ao me aproximar da portaria, encontro novamente com o jovem e sorridente mensageiro.
_Boa noite! – disse-me educadamente. _Já vai deixar-nos? E esta hora?
_Sim! – sorri meio amarelo. _Ainda estou com o fuso horário meio desnorteado. Além de preferir viajar de madrugada. É muito mais tranquilo.
_E para onde vais? Posso saber? – perguntou meio sem graça, enquanto levava minha mala até a portaria vazia. _Só por curiosidade...
_Pretendo embarcar para Londres. Vou ao encontro de uma pessoa.
_Viajar sozinho deve ser meio enfadonho, pois não? – indagou o jovem, fazendo ele mesmo o meu check-out.
_Às vezes precisamos nos aventurar. Deixar os medos de lado e embarcar em nossa busca por um sonho. – falei olhando no fundo dos seus olhos. _ E fazê-lo real a qualquer custo.
_Alguns sonhos são impossíveis de se conquistar. – comentou cabisbaixo.
_Engano seu, meu rapaz. – segurei em sua mão, que preenchia um formulário. _Todos os sonhos são possíveis. Mas todos tem seu preço. Qual o seu sonho? Quem sabe eu possa pagar por ele.

sábado, 21 de abril de 2012

Capítulo 11 - Carne Vermelha e Vinho Tinto


Acordei subitamente, tendo como despertador o meu estômago, que não via comida, há nove horas exatas. Eu hibernara o dia inteiro.
Levantei-me com calma. Cada movimento parecia rasgar-me a pele. Sentia como se o tecido de minhas roupas, fossem esfolar-me. Tudo ardia. Parecia que eu havia fritado ao sol.
Despi-me com dificuldade e fui para o banheiro. Pus o chuveiro na temperatura fria e deixei cair sobre meu corpo uma ducha bem gelada. A água tocava minha pele e fervia. Logo o banheiro estava parecendo uma sauna.
Fiquei ali por alguns minutos, mas obtive um alivio quase que insignificante. Meu corpo ainda estava vermelho e a pele extremamente sensível. E, como se não bastasse, meu estômago ainda ecoava seu ronco de animal faminto.
Caminhei até a janela, abri as cortinas e espiei o movimento lá fora. Não poderia sair enquanto estivesse daquele jeito, mas precisava me alimentar. Foi quanto ouvi uma conversa exaltada do lado de fora do meu quarto. Uma discussão acalorada. Encostei o ouvido em minha parede e fiquei prestando atenção. Até que ouvi a porta bater. Fizeram-se alguns segundos de silêncio. E logo alguém começou a esmurrar a entrada do quarto.
_Abra esta porta! Deixa-me entrar. – a voz rouca e carregada de sotaque do lusitano tremulava de nervoso.

Às vezes me pegava pensando como são as coisas: quantas oportunidades nos batem literalmente à porta e nós, com nossa estupidez racional ou orgulho imbecil, as deixamos escapar de forma ignóbil. Por medo, por insegurança ou o pior, por nos preocupar com o que as outras pessoas pensarão. Realmente eu não tenho o menor orgulho em ter sido humana um dia. Criaturas estúpidas. Mas, voltando ao baticum, que prosseguia na porta ao lado, percebi que, mesmo não pedindo serviço de quarto, o meu jantar acabara de chegar. Só estava batendo na porta errada.

Apaguei a luz do meu quarto e acendi o abajur sobre o criado mudo. Puxei novamente as cortinas, deixando pouca luz, que vinha da rua, entrar no ambiente, e, ainda completamente nua, abri a porta do meu dormitório.
_Boa noite! – disse, cheia de malícia. _Algum problema? Posso ajudá-lo?

 O português imediatamente parou de gritar pela namorada e esmurrar a porta. E ficou ali, com a mão fechada e a boca aberta, a me olhar estupefato. Não conseguia balbuciar nenhuma palavra. E, assim, meio catatônico, caminhou em minha direção.
_Venha! Entre! – convidei, estendendo-lhe a mão. Ele olhou para os lados, nervoso. Com a mão, afrouxou o nó da gravata. E finalmente conseguiu dizer alguma coisa.
_Não posso. Minha mulher está no quarto ao lado.
Seus olhos me comiam com a fome de quem jejua na quaresma. Então insisti.
_Pelo que estou vendo, ela não vai sentir a sua falta hoje.
_Nós tivemos uma pequena rusga. Nada demais. – justificou. _Daqui a pouco tudo volta às boas.
_Então, enquanto ela se acalma em seu quarto, por que você não entra um pouco e me faz companhia? – segurei na ponta de sua gravata e fui puxando-o para dentro. Não demonstrou nenhuma resistência, apenas lançou alguns olhares perdidos para trás, verificando se mais ninguém o via adentrar ali. Também fiz o mesmo, mas minha intenção era, de que ninguém mais o visse sair lá de dentro. E com o pé, fechei a porta.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Capítulo 10 - Carne Vermelha e Vinho Tinto

Foi há uns três meses atrás, enquanto estrangulava mais um vampiro fedorento, que se interpunha entre minha refeição, um belo espécime masculino no furor dos seus hormônios, e eu, que ouvi entre um engasgar e outro, meio que abafado pelo sangue que voava de sua boca junto à saliva, o suposto paradeiro da segunda parte do pergaminho perdido. A princípio, julguei ser apenas uma saída desesperada em prol da própria vida. Podia ser uma mentira criada no desespero. Tudo para manter a cabeça presa ao pescoço.

_Juro que é verdade! – exclamou desesperado, pondo quase um palmo de língua para fora e respirando ofegante o vampiro. _Não sei se é apenas uma lenda toda a história em torno do pergaminho. Ninguém nunca conseguiu juntar as três partes para descobrir. Ou melhor, dizem que apenas um vampiro fez esta proeza. Mas eu ouvi dizer, que parte deste artefato, se encontra do outro lado do mundo, nas mãos de um poderoso vampiro.

_E quem lhe contou tal informação? – perguntei, afrouxando mais as mãos em torno da goela daquela criatura insignificante.

_Não sei... Não sei dizer ao certo. – gaguejou. _ Mas eu ouvi alguns vampiros comentando. É verdade! Pode acreditar.

_E o nome deste vampiro tão poderoso, você saberia me dizer?

_Sim, sim... Eu digo. Mas por favor, não me mate. Eu imploro. – naquele momento, até cheguei a acreditar em suas palavras, já que o pobre coitado tremia mais que gelatina no prato.

_Tudo bem. – larguei o pescoço do estupor e o deixei respirar mais tranquilamente. _Agora me diga o nome.

_Winkelmann. Lord Willian Winkelmann. – disse, ainda gaguejando e cuspindo um pouco de sangue. _Ele é um milionário e mora em Londres. Dizem que é um homem muito mal e excêntrico. Só que isso pra mim, é sinônimo de vampiro. Com certeza este magnata é um chupa sangue feito você e eu.

_Não! Eu não sou feito você! – arremessei-o para longe com um chute. _Possuo um objetivo maior do que apenas chupar sangue. Mas isso não lhe diz respeito. Por hora, satisfaça-se por permanecer vivo ou morto-vivo, como queira. Só não ouse cruzar meu caminho novamente.

Minhas lembranças, naquele momento, até me fizeram sorrir. Mas eu estava tensa ao ter que transitar durante o dia. Qualquer exposição maior ao sol e eu viraria churrasquinho de Valentina.

Ainda dentro do taxi, calcei um par de luvas e cobri a cabeça com um grande chapéu de aba preta, que trazia em minha mala. Fiz questão de trazê-la ao meu lado, no banco do passageiro, e não no porta-malas do carro.

O dia não estava frio, mesmo estando nublado. Toda aquela minha roupa poderia causar estranheza aos olhares alheios. Sendo assim, chegando ao hotel, não perdi tempo, fui logo desembarcando e invadindo a recepção. Segundos depois, já estava chegando ao meu quarto, tendo minha mala carregada por um belo rapaz sorridente. Ele educadamente abriu a porta para que eu entrasse, em seguida, deixou minha mala ao lado da belíssima cama king size.

_Não abra as cortinas, por favor! – gritei, assim que o mensageiro esboçou o movimento para abri-las. _Vou aproveitar para descansar um pouco. Melhor que elas permaneçam fechadas, obrigada.

_Se assim prefere, senhora. – sem perder o sorriso, caminhou para a porta do quarto. _Se precisar de mais alguma coisa, é só chamar. Com licença.

Coitado do rapaz, mal podia imaginar o que se passava em minha cabeça. O que eu queria mesmo, naquele momento, era empurra-lo sobre aquela cama convidativa, rasgar seu uniformezinho ridículo com os dentes, o deixando nu em pelo, e usa-lo pelo resto do dia até exaustão. E, quando chegasse à noite, me banquetear com seu sangue em ebulição, já que o restante de seus líquidos se teria esvaído.

_Que merda! – desabafei, me jogando de costas sobre o macio colchão. Entre o meu querer e o precisar, sabia que o segundo sairia ganhando. Meu corpo precisava descansar. Já havia feito proezas demais para um único dia. Sentia minha pele formigar. Daria tudo para dormir em um caixão neste momento. Boa noite.

sábado, 14 de abril de 2012

Capítulo 09 - Carne Vermelha e Vinho Tinto


Seriam mais ou menos oito horas de voo do Brasil a Portugal. Apenas uma mala entulhada de roupas. A saída às pressas não me dera tempo para organizar nada. Documentos e passaporte e todo o dinheiro que já havia separado em casa, estava tudo em minha valise de mão. Botas, calça jeans e um grosso e comprido casaco, era o que eu vestia. Além da echarpe sobre a cabeça e os estilosos óculos escuros. Tudo em prol da proteção da minha pele sensível ao sol. Chegaria durante a manhã à terra de Cabral.

A viagem estava tranquila. Praticamente todos os passageiros dormiam e eu, aproveitava o silêncio para repensar meus planos, já que não contava com essa fuga repentina.
Uma viagem era certa, mas não para Portugal e não naquele momento. Mas já que não havia como mudar os acontecimentos, eu precisava me virar da melhor forma possível. Ao chegar a Portugal, me hospedaria por alguns dias e, após fazer meus devidos contatos, partiria de lá para Londres, local onde deveria ir desde o principio.
Não tendo muito que fazer no momento, decidi descansar um pouco. Sentia meu estômago começar a revirar, mas seguraria a fome o quanto pudesse. Não seria muito prudente me arriscar naquele momento.

Do sono leve acordo, ao ser educadamente tocada no ombro pela comissária de bordo. Ela oferecia aperitivos durante o voo. Recusei sorridente, sem conseguir despregar os meus olhos do seu pescoço esguio, envolto num lenço vermelho, que completava o elegante uniforme da empresa aérea. Minha boca salivou, como se à minha frente alguém cortasse ao meio um suculento limão. Acompanhei-a com os olhos até o final do corredor da aeronave. Olhei em meu relógio e vi que em poucas horas o avião pousaria. Já dava para ver o céu clarear pela janela. Então, me levantei e caminhei em direção ao banheiro, passando por ela e, fazendo questão de que me visse entrar no reservado. Lá permaneci por alguns minutos, sabendo que em breve todos deveriam estar assentados em suas poltronas e com os cintos de seguranças bem travados.
_Com licença! – ela diz, batendo na porta. _A senhora está bem? Precisa de ajuda?
_Estou um pouco enjoada! – respondo.
_Vamos pousar em alguns instantes. A senhora precisa retornar ao seu lugar.

Abri a porta do banheiro e simulei estar meio tonta, sentando-me novamente no sanitário.
_Venha! Vou ajudá-la a voltar ao seu assento. – disse a comissária, entrando também no banheiro. Segurando com cuidado em meus braços, ela ajuda-me a levantar e, mais uma vez, finjo ter uma tonteira e sou por ela amparada.
_Nossa! Estou muito tonta. Se não fosse você eu teria me esborrachado no chão.
_Não precisa agradecer. Estamos aqui pra ajudá-la. – respondeu, quase que como num roteiro. Uma fala imposta pela empresa e decorada à exaustão.
_Acho que já estou um pouco melhor. – respiro profundamente e sorrio agradecida. _Você foi um anjo. – viro-me e suavemente beijo-lhe a face. Ela me olha surpresa, mas sorri sem graça. E quando ela ensaia sair do banheiro, puxo-a com força e lhe cubro a boca e, em seguida, tranco novamente a porta do banheiro.

Minutos depois, o avião pousa sem o menor problema. O desembarque é tranquilo. O céu nublado me deu um pouco mais de segurança para sair. E, apesar de estar um pouco quente, precisava me cobrir bem.

No saguão do aeroporto e já de posse de minha mala, caminhei para a saída entre turistas que iam e viam. Até perceber um tumulto, seguido de um corre-corre ao som de sirenes. O zum-zum-zum era muito familiar. Senti-me no Brasil. Não só pelo idioma, mas pelo boca a boca das pessoas, a troca rápida de informações. Então, aguçando meus ouvidos, pude entender o que as pessoas falavam. Uma comissária de borda havia sido encontrada morta no banheiro da aeronave. E mais, com uma grande mordida no pescoço.
_Pobre moça! – pensei auto, depois sorri e chamei um taxi.