O
quarto estava à meia luz e nós dois a alguns passos da cama. As janelas
entreabertas deixavam o vento passar em meio às cortinas, fazendo-as dançar. O
meu corpo ainda ardia em brasas, mas o covidado não podia ver entre a penumbra,
o vermelhidão sobre a minha pele.
Com fúria, abri sua camisa e pude
ouvir os botões voarem pelo quarto e ricochetear pelas paredes. Ele ofegava em
meu pescoço e suas mãos mal-educadas percorriam o meu corpo. A sensação era de
uma lâmina afiada perfurando minha epiderme. Eu urrava, ora de dor ora de
excitação.
Joguei-me com ele sobre a cama e com
minha língua atrevida, fui desbravando todo o seu corpo, descendo por seu peito
peludo até alcançar sua calça. Ainda com a boca, desabotoei-a. Suas mãos, neste
momento, agarraram-se ao edredom com tanta força, que suas unhas perfuraram o
tecido da coberta.
Éramos dois animais no cio. Vorazes,
famintos, despudorados e insaciáveis. Ele se sentia o próprio leão, o rei da
selva. O macho alfa, dominante. Mal sabia que a fêmea, cuja sua egocêntrica
masculinidade achava possuir nesta noite, era da classe aracnídea. A própria
viúva-negra, que após copular com seu macho, arranca-lhe a genitália com a
própria vagina, fazendo-o morrer por hemorragia. A única diferença era que eu
não iria desperdiçar uma gota sequer do sangue daquele apetitoso espécime
masculino.
Nus em pelo, rolávamos sobre a cama.
Beijos gulosos e apertos, deveras violentos, compunham uma sinfonia de gemidos
e suspiros. E meu corpo cada vez mais febril o deixava ainda mais aceso. Sou
penetrada, então, por seu membro pulsante e minhas entranhas em brasas o fazem
urrar. Um soluçado entre a dor e o prazer descomunal. Cruzo minhas pernas sobre
seu corpo e o abraço fortemente, tornando impossível sua fuga. E antes de
senti-lo derramar dentro de mim todo seu tesão líquido, abocanhei-lhe a
jugular, sugando com avidez quase todo seu sangue, em uma única dentada.
Momentaneamente havia saciado minha
sede, o formigamento em minha pele diminuído e a minha cor, já estava tão
pálida quanto antes. Mas a fome permanecia. Pus, então, seu coração em minhas
mãos. Literalmente. Cortei a pele de seu peito com minhas unhas e introduzi as
mãos em seu tórax, rasgando o corpo ao meio. Apanhei seu coração e o devorei,
saboreando aquele músculo suculento, lambendo o sangue que escorria entre os
meus dedos.
A madrugada já se adentrava, quando
me levantei para tomar banho. A água, muito quente, caía sobre o meu corpo,
ajudando a dissolver o sangue coagulado, preso sobre minha pele. O piso do box,
completamente vermelho, me lembrou de outros tempos, não tão distantes, e me
senti aliviada por nunca mais ter que menstruar. Mais uma vantagem em ser
vampira.
Meu corpo estava completamente
recuperado. Agora, precisava deixar aquele lugar o quanto antes.
Vesti-me apropriadamente. O corpo bem coberto, dos pés à cabeça. Teria que sair às escondidas e encontrar outro local para me instalar.
Pego o elevador e chego ao saguão do
hotel. Ao me aproximar da portaria, encontro novamente com o jovem e sorridente
mensageiro.
_Boa
noite! – disse-me educadamente. _Já vai deixar-nos? E esta hora?_Sim! – sorri meio amarelo. _Ainda estou com o fuso horário meio desnorteado. Além de preferir viajar de madrugada. É muito mais tranquilo.
_E para onde vais? Posso saber? – perguntou meio sem graça, enquanto levava minha mala até a portaria vazia. _Só por curiosidade...
_Pretendo embarcar para Londres. Vou ao encontro de uma pessoa.
_Viajar sozinho deve ser meio enfadonho, pois não? – indagou o jovem, fazendo ele mesmo o meu check-out.
_Às vezes precisamos nos aventurar. Deixar os medos de lado e embarcar em nossa busca por um sonho. – falei olhando no fundo dos seus olhos. _ E fazê-lo real a qualquer custo.
_Alguns sonhos são impossíveis de se conquistar. – comentou cabisbaixo.
_Engano seu, meu rapaz. – segurei em sua mão, que preenchia um formulário. _Todos os sonhos são possíveis. Mas todos tem seu preço. Qual o seu sonho? Quem sabe eu possa pagar por ele.